A Tragédia da Rua das Flores de Eça de Queirós
- Sofia
- 29 de nov. de 2020
- 3 min de leitura

Olá Ilustres!
A obra que vos trago proporcionou-me risos, estranheza e aquela expressão facial que representa o "nojo", em que cerramos os olhos e encolhemos a boca.
O livro: A Tragédia da Rua das Flores de Eça de Queirós.
A minha edição é do Círculo de Leitores, impresso em 1993, livro de capa dura, com 672 páginas, dividido em dezanove capítulos numéricos, complementando com um "Sobre o Autor" e a "Bibliografia".
Este livro foi adquirido na Feira do Livro, no Porto, de 2020, num alfarrabista. A edição é belíssima, no entanto, há um erro de impressão, tendo duas páginas brancas, interrompendo a narrativa.
A opinião:
A Tragédia da Rua das Flores retrata um caso de incesto entre Genoveva (mãe) e Vítor (filho), abandonado pela sua mãe há 23 anos.
Genoveva casara com Pedro da Ega, abandonando-o para casar com um emigrante espanhol. Após inúmeros relacionamentos, esta casa-se com um velho senador, partilhando-lhe o apelido de Molineux. Após o seu falecimento, Genoveva viaja para Portugal, acompanhada por um brasileiro abastado. Ou seja, até agora temos uma personagem odiosa, que vive de caprichos e quantias que não são suas. Além disso, apresenta um carácter insuportável, caprichoso e egoísta, até ao término da obra. No entanto, é uma personagem absolutamente queirosiana, realista, repleta de "alma".
Em Portugal, relaciona-se com Dâmaso, um ignorante e bruto, iliterado e arrogante, repleto de manias sociais e ilusões de estatuto, boémio e endinheirado.
Vítor, pobre inocente, belo e desejado por todas as moças, vê-se envolvido num drama, resultando numa tragédia. Este apaixona-se perdidamente por Genoveva, à primeira vista, e capta do mesmo modo a atenção de Genoveva. O jovem, educado por Timóteo, o tio velho que vivera na Índia, trabalha valores controversos, através da imoralidade, sendo que, desta educação, resulta um jovem nervoso, apático e sem ambições.
Através do "confronto" de Timóteo com Geneveva, nos inteiramos que esta é mãe de Vítor, resultando numa tragédia abismal, ali, no 3º andar, na Rua das Flores. Vítor termina como um "vencido da vida", abalado e destruído pela fatalidade, tal como Carlos da Maia, em "Os Maias".
A personagem que mais me causou asco foi Camilo Serrão, um pintor iludido pelas vanguardas, que se considera muito, mas pouco se apresenta. Casa com uma jovem descrita como belíssima e corporalmente atraente, mesmo após parto, negligenciando-a emocionalmente, tendo-a por capricho, sendo ela bela mas ignorante. Este desprezo que causa infelicidade a Joana, causou-me asco e raiva, colocou-me numa posição em que qualquer palavra que estivesse direcionada pelo pintor era lida com desdém e ignorada com sucesso. Há personagens assim, que causam um impacto tamanho e sustentam a crítica.
O Tio Timóteo, embora tenha nutrido empatia com a sua hitória de vida e pela bondade que toma com Vítor, desgostei do racismo e do machismo que a sua personagem representa, achei até abominável certos diálogos e pensamentos que ele vai desenvolvendo ao longo do livro.
Esta obra é publicada tardiamente, pois, fora um rascunho para Os Maias, podemos constatar tal pelo desenvolver da narrativa, a temática de incesto e as personagens que são comuns a ambas obras, desde a Melanie até ao Dâmaso, mantendo as mesmas características. Podemos, também, dizer que Pedro da Ega se assemelha a Pedro da Maia, em termos de características pessoais, ambos frágeis e com destino fatal.
A Tragédia na Rua das Flores é um livro crítico, capta a essência da vida portuguesa e do realismo de Eça, é crua, bruta e impactante. Um deleite, enquanto escrita, um estalo enquanto narrativa.
E qual é a vossa opinião sobre este livro? O meu próximo passo é ver a série, algo antiga.
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