O Falecido Mattia Pascal de Luigi Pirandello
- Sofia
- 30 de nov. de 2020
- 3 min de leitura

Queridos e queridas ilustres!
Por conta desta minha nova leitura, me repus e recompus no meu registo normal. Os motivos ser-vos-ão explicados no final desta publicação, por agora, fiquemo-nos pelo livro que vos trago, o meu mais recente término, que me surpreendeu muito.
O livro: O Falecido Mattia Pascal de Luigi Pirandello.
Luigi Pirandello, autor italiano, conhecido pelo seu sentido de humor deveras peculiar e obscuro, apresenta-nos a narrativa de Mattia Pascal, um homem considerado morto, que recebe a oportunidade de criar uma nova identidade. A questão da identidade do eu, nas suas diversas valências, é um tema predominante na obra do autor, contatando que este concebera obras, desde A Desconhecida (1930), A Vida Que Eu Te Dei (1924), entre outras, que flexibilizam e transformam o tema, de um modo tão próprio, que nos transporta para uma viagem intrapessoal e interpessoal, sobre o nosso próprio eu.
E quem é Mattia Pascal? Um só homem comum, que nasce com problema nos olhos e aspeto ordinário, que o levam a crer que é feio, comparado com a restante mocidade. O seu irmão opõe-se com um desenvolvimento adonídeo, bastante atlético e vistoso.
O pai de Roberto e Mattia morrera quando este ainda tinha quatro anos, deixando a família com uma quantia abastada, no entanto, a mãe dos irmãos, não se sentindo capaz de gerir os bens familiares, solicita Batta Malagna, um amigo de longa data do seu marido, que pratica uma gestão corrupta e egoísta, ao longo dos anos.
Batta, após o falecimento de sua mulher, casa com uma jovem campestre, Oliva Salvini, sendo esta a paixão de Mattia Pascal, sofrendo de um casamento tirânico e divorciando-se pela incapacidade de dar filhos a Batta. Ora, cá nos confrontamos com um machismo de tamanha ordem, a jovem não concebera nenhuma criança com Batta, tornando-a incapaz e indigna de ser sua esposa, aos olhos do tribunal, culpabilizando-a dalgo infeliz.
Por uma série de cómicos e infelizes acidentes, Mattia é obrigado a casar com Romilda, uma jovem à guarda da vil Viúva Pescatori, "roubando-a" de Pomino, um seu amigo muito apaixonado por ela, iniciando um período miserável para Mattia e a família. Roberto casa e ausenta-se da família, por conta da corrupção de Batta, a família encontra-se miserável e dependente dos bens da Viúva que maltrata a mãe de Mattia e Mattia. Este vê-se obrigado a tornar-se bibliotecário, a fim de trazer dinheiro para sustentar a sua família, aqui, ele tem o seu primeiro contacto com a literatura, principalmente, com livros de filosofia, que transformam a sua vida e o seu modo de agir.
Após inúmeros incidentes e a retirada de sua mãe para casa de sua irmã, por conta dos comportamentos violentos da Viúva Pescatori, no mesmo ano, as duas filhas de Mattia Pascal morrem, precedendo-lhes a sua mãe. Mattia não consegue lidar com a tristeza e "desaparece".
Em Monte Carlo, Mattia entra num casino e demonstra a sua sorte para o jogo, multiplicando o escasso dinheiro que guardara entre os livros. Após dias, decide voltar para a sua terra, com uma enorme quantia monetária, ambicioso de se libertar dos seus credores e viver uma vida confortável. Quando se aproxima da sua terra, verifica que foi dado como morto e decide recomeçar a sua vida, criando uma nova identidade. Assim, "larga" Mattia Pascal e inicia uma jornada absolutamente filosófica como Adriano Meis, uma identidade inventada, com background concebido por si mesmo.
Ao longo da sua jornada, com inúmeros episódios cómicos, juntamente com reflexões sérias e necessárias, Mattia reflete sobre a sua própria identidade, sentindo a solidão, o amor, o conflito, percebendo-se a si mesmo e qual o seu papel, na sociedade. Desconstroi-se a si mesmo, para se construir, crescendo e evoluindo, falhando e recuperando-se. Muitos temas retóricos palpitam entras as páginas, discute-se o suicídio, o valor da vida, o que acontecerá após a morte e o refúgio na religião e no espiritismo, para justificar aquilo que não se pode ver ou sentir, no entanto, não se descarta a possibilidade de serem enganos à alma, que nos tapam e impedem de percecionar a realidade fria e crua, somos tudo e nada, somos quem quisermos, desde que a sociedade nos deixe ser.
Em conclusão, Mattia percebe que fugir de si mesmo e do seu passado é errado, confrontando-se com a existência e assumindo-se, finalmente, dominante de si mesmo.
Eu aconselho vivamente a leitura desta obra, que está maravilhosamente e deliciosamente redigida, com ideias complexas e necessárias, que nos levam a refletir sobre a nossa posição, face a nós mesmos e face o mundo. Tal foi o complexidade da leitura, que dei por mim a refletir sobre o "eu" e a forma como me exponho ao mundo, tomando a decisão de me confrontar e recuperar, sendo eu mesma e assumindo a minha identidade, que por vezes, tenho tanta dificuldade, por recear repercussões, estas ilusórias e receios só de mim. Não devemos ter-nos receio, pois o mundo está pronto para nos aceitar.
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