A Vegetariana de Han Kang
- Sofia
- 29 de nov. de 2020
- 4 min de leitura

Olá Ilustres! Através do usufruto do advérbio de tempo “Hoje”, complementando com o verbo “trazer” no presente do indicativo, na primeira pessoa do singular, acoplando-lhe o pronome pessoal “vos”, formulando a frase:” Hoje trago-vos”, inicio este post enunciando que vos trago uma nova opinião.
O livro: A Vegetariana de Han Kang.
A minha edição é da editora D. Quixote, livro de capa mole, com 190 páginas, dividido em três partes: 1. A Vegetariana; 2. Mancha Mongólica; 3. Árvores Flamejantes. Esta obra foi premiada com o Man Booker Internacional Prize, em 2016.
Han Kang produziu Atos Humanos, uma obra, cuja opinião já a publiquei neste blog. Esta leitura foi compartilhada e frequentemente discutida com a Raquel, do Instagram @manifartisticas.
Para esta apreciação, recorri a várias entrevistas protagonizadas pela escritora, para melhor compreensão da mesma.
A opinião:
As expectativas para este livro ultrapassavam os limites. Além de me ter apaixonado pela obra Atos Humanos, também nutri uma paixão efervescente pela capa extremamente bem combinada e simbólica.
Eis a sinopse:
1. A Vegetariana – Nesta primeira parte, lemos o relato e perspetiva de Cheong, esposo de Yeong-Hye, sobre a sua mulher e o seu relacionamento.
Nesta fase, compreendemos que Yeong-Hye está presa num relacionamento abusivo, que os seus comportamentos causam opóbrio ao esposo, nomeadamente, o facto de não usar soutien ou evitar se maquilhar, no entanto, como cumpre com as funções necessárias à coexistência machista, sendo estas tratar da casa, cozinhar e servir sexualmente, permite que coexistam, sem que o marido se incomode. Esta fora pedida em casamento, por ser de beleza mediana e não ter nenhuma capacidade particular, não ofuscando o marido.
Após a recorrência de sonhos perturbadores, Yeong-Hye larga o consumo da carne, tornando-se vegetariana. Este comportamento escandaliza o marido porque, na sua perspetiva e na da sociedade, é um comportamento estranho e vergonhoso; por outro lado, provoca-o e à família da sua esposa, pois deixa de cumprir os seus deveres de “mulher”, não cozinhando devidamente para o seu esposo e manchando a imagem do mesmo.
Esta, após uma sucessão de eventos, acaba internada no hospital e excluída da família, por se manter fiel e determinada, com a sua decisão de deixar de comer carne.
Nesta primeira parte, é-nos introduzida a família de Yeong-Hye, destacando-se o pai, ex-combatente no Vietname, nacionalista e agressor, pela sua violência atroz, incapaz de solucionar algo sem utilizar a força, preenchendo os dias da protagonista de violência, exercida nela ou noutros, desde tenra idade.
2. Mancha Mongólica – Nesta segunda parte, Yeong-Hye já saiu do internamento e foi viver para casa da sua irmã, In-Hye, temporariamente. Após recuperação, mantem-se sem se alimentar de carne, mas já tenta retomar uma vida “normal”. Aluga um estúdio e tenta empregar-se num part-time, de modo a contrariar o possível esgotamento.
Entretanto, o cunhado de Yeong-Hye, marido de In-Hye, desenvolve uma atração sexual excessiva por esta, e embora tente contrariar esta atração, acaba por criar as condições necessárias para a criação de uma obra de arte esplendorosa, sexual, mas que envolveu ambos, através da utilização da natureza. Yeong-Hye sente-se atraída pela libertação da natureza, e ao pintar-se flores no corpo de ambos, a atividade natural surge. Além disso, o cunhado mostra genuíno interesse pelos sonhos de Yeong-Hye, no entanto, as condições sociais não permitem o desenvolvimento da conversa. In-Hye descobre e ordena internamento a ambos, acusando-o de se aproveitar de uma mulher que não está com as suas faculdades plenas, principalmente, por ser sua irmã.
O casamento de In-Hye é também explorado e existem similitudes entre ambos casamentos das irmãs, sendo estes apenas contratos de submissão, em que pelo menos um dos elementos se sente destruído pelos ditames sociais.
Nesta parte, encontrei semelhanças entre o cunhado e Yeong-Hye, ambos deperecendo pelas normas e pela sociedade, colocados na crítica pelos comportamentos anómalos, não expectáveis. Ambos anseiam a libertação, através da natureza, Yeong-Hye através das plantas e o cunhado através do voo das aves, facto este que se nota nas filmagens dos voos das aves e na tentativa de saltar pela varanda, como modo de fugir à clausura.
3. Árvores Flamejantes – Na última parte, Yeong-Hye tenta afastar-se do ser humano e aproximar-se de uma árvore, que não sente, desvinculando-se do massacre sofrido ao longo dos anos. Nesta ideia encontra a salvação e mantem-se determinada.
A irmã começa a compreender o processo de “destruição” da irmã, pois, também ela começa a padecer do mesmo ciclo, desde sonhos incompreensíveis, dificuldade em dormir e descontrolo da própria vida.
Esta obra aborda temas muito importantes, desvalorizados pela nossa sociedade: a perceção da mulher num relacionamento e no mundo; a saúde mental e o desvalorizar da mesma, pela sociedade; o descredito dos próprios funcionários e médicos, que tratam os doentes sem brio; a destruição do ser; a natureza e a falsa ilusão de liberdade.
O livro é bom, agradável de se ler, no entanto, após ler Atos Humanos, o impacto deste livro decresce, tornando-se quase mediano. Por outro lado, o livro apresenta alguns lapsos ortográficos……….
Qual a vossa opinião sobre este livro?
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