O Tchekista de Vladímir Zazúbrin

Olá Ilustres!

Há uns meses encomendei três pequenos livros, da ala de promoções da Antígona. Ora, um destes, talvez o que mais me espoletou curiosidade, está lido, e como tal, trago-vos a minha opinião.

O livro: O Tchekista de Vladímir Zazúbrin.

A minha edição é da Antígona, de capa mole, com 172 páginas, no entanto, compreende um prefácio e uma nota bibliográfica. O género literário é a novela, por isso antevemos uma narrativa com poucas personagens e uma história mais centrada num único acontecimento. Esta foi escrita em 1923 e publicada, pela primeira vez, em 1989.

Um Tchekista é um elemento da Tcheka. O que é a Tcheka? Uma organização de polícias secretas soviéticas, que urge em substituição da Okhrana (polícia secreta czarista). Um dos objetivos principais da Tcheka a prevenção da contra-revolução, nesse intuito, concebe-se uma perseguição fria, massificada e extensa, de qualquer suspeito, fundamentado ou infundamentado; famílias de oficiais e ex-trabalhadores do Império Russo (homens, mulheres e crianças); membros do clero; proprietários de espaços privados avaliados acima de 10.000 rublos. Em conclusão, todo aquele ser que se mostrasse, no presente ou no passado, ligação, verificada ou não, com o exército branco ou aposto ao regime, era considerado um perigo e criminoso.

A Tcheka precede, de certo modo, a KGB.

Vladímir Zazúbri escritor siberiano, opositor do regime czarista, é preso e fuzilado, aquando da repressão de Estaline.

A opinião:

A Capa

A capa suscitou-me bastante curiosidade, pela sua simplicidade e elementos independentes que, de certo modo, se aparentam, simbolicamente, interligados. Assim, fiz umas pesquisas, para fundamentar a minha opinião e explicar a capa.

As cores vermelho e amarelo dourado são cores presentes na bandeira comunista e na capa deste livro. O vermelho representa o sangue do sacrifício do proletariado. O amarelo dourado cobre o martelo e a foice, que se notarmos, estão unidos, ambição comunista de unificar a classe operária industrial (martelo) e os trabalhadores agrícolas (foice).

Após algumas pesquisas, subjetivamente falando, compreendi que Urso era uma aeronave, a Tupolev Tu-95, o maior símbolo do poder militar soviético, assim, entendo que o urso ilustrado na capa representa a força militar russa.

A serpente ilustrada na contracapa, por sua vez, representa a perspetiva exterior face ao bolchevismo, visto como um inimigo e um grupo de repressão.

O Enredo

A novela é um relato ficcionado, uma frieza e um terror, que descreve os procedimentos dos Tchekas, numa política liderada por Lenin. Uma obra dolorosa, atroz, mas necessária para a compreensão do passado e do que não é necessário existir com recorrência.

Srúbov é o protagonista desta novela, é presidente da Tcheka Provincial, investigador da mesma, assina as sentenças e lidera as execuções dos contrarevolução. Move-se, cegamente, fiel a Ela, à revolução, assistindo ao sangue e à mortes massificadas, no entanto, essa cegueira não é barreira para os pensamentos, criando, assim, um conflito interior entre aquilo que deve ser tomado como verdade absoluta, a revolução como essencial a qualquer meio e fim, e a justiça e humanidade. Este relato é acompanhado de metáforas imagísticas que nos retiram da “realidade”, mas nos conduzem à plena compreensão dos sentimentos do protagonista, nomeadamente, as referências ao funcionamento da máquina, que nos aparece em vários livros com conotação revolucionária.

A dimensão das metáforas é essencial, mas difícil de criar hábito porque a desatenção pode levar à confusão de ideias e incompreensão da obra.

Além das execuções e massacres, também estão incluídos os conflitos na família do protagonista, a perspetiva carnal dos agentes da Tcheka, a indiferença humana face à diferenciação de perspetivas e oposição a ideais de maiorias.

Citação destacada:

“A Revolução é uma fábrica mecânica. Cada máquina, cada parafuso tem a sua função.”