O Vendedor de Passados de José Eduardo Agualusa
- Sofia
- 29 de nov. de 2020
- 2 min de leitura

Olá Ilustres!
Mais uma opinião e mais um livro estupendo, desta vez, O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa
O livro: O Vendedor de Passados de José Eduardo Agualusa.
A minha edição é da Quetzal, de capa mole, com 145 páginas, dividido em 32 capítulos. Este romance foi publicado em 2004, que num contexto histórico de Angola pós-colonialismo.
O Vendedor de Passados conta-nos a história de Felix Ventura, um senhor que vende passados, ou seja, através das suas coletas, atribui passados diferentes a pessoas que queiram apagar o seu próprio passado; por outro lado, a perspetiva de uma osga, face toda a dinâmica que vai decorrendo em casa de Félix.
A opinião:
A Capa
A capa desta obra é de uma beleza extraordinária: desde o jogo de cores à representação da osga, através de cores mais claras. Uma capa alegre, mas que nos levam para uma conceção mais mística. Alcançou o pódio, nas capas que eu detenho.
O Enredo
Na minha mais transparente sinceridade, este livro demonstrou-se do mais único e sensível que já havia lido em tempos. O Félix Ventura, um homem albino, residente em Luanda, abandonado pelos pais, mas acolhido por um alfarrabista, assume uma profissão caricata de desenvolver passados para quem queira esquecer os seus. Este emprego inclui a função de atribuição de familiares reais, fundamentando mentalmente, a sua nova identidade.
Este “emprego” é necessidade comum, todos temos aspetos do nosso passado, que gostaríamos ver removidos, ou que não nos familiarizamos positivamente, acentuando-se o facto de pós-colonialismo, a realidade de Angola era bruta e corrupta, levando aos mais variados arrependimentos.
Na sua humilde residência, também reside uma osga, Eulálio, que se torna confidente de Félix e urge oportunamente, para o leitor, ou em sonhos dos personagens, com as reflexões apropriadas ao momento da narrativa, que nos levam, enquanto leitores, a ponderar o nosso próprio rumo. Uma das sistemáticas reflexões abraça a ideia de reencarnação.
Em paralelo, José Bunchmann e Ângela Lúcia trazem-nos uma perspetiva política e social desta Angola manchada pela violência e pela corrupção.
Sinceramente, eu acredito na existência de obras para o momento e senti que este foi o momento ideal para esta leitura, levando-me à reflexão, mas aliviando-me a alma e o ser, mesmo existindo fatalidades e a própria frieza da história, que nada nem ninguém conseguirão apagar.
Personagens:
A personagem que mais apreciei a Ângela Lúcia e a sua visão pragmática do mundo, independentemente do sofrimento, somente procura a beleza dos céus, que captura com a sua câmara.
A personagem que mais odiei foi Edmundo Barata Reis, um atual sem abrigo, pré-agente do estado, encarregado de torturar, fosse mulher, crianças ou homens, qualquer ser que se apresentasse ou fosse acusado de atitude anti-governo. Agora velho, mantém as ideologias extremistas, opressoras e castrantes.
Citação destacada:
“Deus deu-nos sonhos para que possamos espreitar para o outro lado.”
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