Quem Disser o Contrário é Porque tem Razão de Mário de Carvalho
- Sofia
- 29 de nov. de 2020
- 3 min de leitura

Olá Ilustres!
Mais um dia, mais uma publicação, embora não se torne rotina, pois bem sabem que a leitura dos livros implica um degustar, mediante capacidade de leitura de cada um e do livro em si. Por muita que seja minha vontade, publicar todos os dias, ser-me-á impossível, considerando as vicissitudes da vida.
Sem mais demora, prossigamos para o escopo desta publicação.
O livro: Quem disser o contrário é porque tem razão de Mário de Carvalho.
A minha edição é da Porto Editora, de capa mole, com 276 páginas, composto por 6 capítulos. Além do título, a obra compreende um subtítulo: Letras sem Tretas – Guia Prático de Escrita de Ficção. Quanto ao conteúdo, o livro é de teor científico-literário, e traça-nos uma linha reflexiva sobre o ato de escrever uma narrativa, não obstante, aplica-se de igual impacto, a leitores e a escritores.
A opinião:
A Capa
Eu sou, assumidamente, uma apaixonada pela capa. Desde o momento em que comprei o livro, os meus ávidos sentidos estéticos abraçaram a capa duma forma intensa. Os tons pastel, juntamente com as formas presentes na capa, em que urgem fáceis associações à escrita, juntamente com o tipo de letra selecionado. Toda a composição está criativa, apelativa e simples. Um aspeto que acho incrível: Tem relevo!
Tenho um especial apresso por capas com aspetos curiosos e destacados, então o relevo foi uma surpresa imensamente positiva, pois comprei online e não tinha visto nem pegado no livro fisicamente.
Ideias a reter
Eu considerei a obra muito construtiva, principalmente, porque Mário de Carvalho, apoderando-se de uma escrita irónica e hilariante, deambula por noções e conceitos que auxiliam na avaliação da nossa própria construção literária, abordando temas como as personagens, o tempo, os recursos expressivos, a pontuação, a própria conceção das capas e da lombada. Por tanto, o autor propõe-nos uma viagem sobre a produção de um livro, pensando em todos os detalhes que merecem a devida atenção, propondo-nos desafios, estes ambicionando a prosperidade da nossa escrita.
Este humor que referi torna-se um dos maiores aspetos positivos, pois considerando o teor do livro, a área científica, o carácter humorístico facilita a leitura da obra que é detentora de alguma densidade, acoplando vários conceitos, obrigando o leitor a parar e refletir. Sendo necessária esta ação, o humor alivia essa mesma densidade e motiva ao prosseguimento, na inserção do processo criativo e reflexivo, proposto pelo livro.
O autor torna persistente a ideia que é necessário conhecer um compêndio largo de obras, sejam clássicas ou não, para se estimular o espírito crítico e a capacidade de produção coerente e bem fundamentada. Desse modo, estando em constante exposição a obras de variedades distintas, temos acesso implícito a vários modelos, adaptando-os àquilo que somos e que queremos transmitir, dependendo do nosso propósito literário.
Esta mesma proposta sistemática de livros, clássicos ou não, de outros autores, como exemplo para justificar as perspetivas do autor, é tão vasta, que aquando lidos por nós ou demonstrados por citação, nos auxilia a compreensão dessas mesmas perspetivas. No entanto, tornou-se um obstáculo, quando a obra é pertença nos livros Must Read e ainda não nos passou pelas mãos. Mesmo assim, é uma motivação para os ler prontamente e reler este livro, para adquirir novas perceções e pontos de vista, adaptáveis aos nossos próprios projetos de escrita.
Desta obra, sendo ela de teor científico-literário, explora inúmeros conceitos e ideias relacionados com a literatura e tudo o que a envolva, eu destaco o literalismo, sinteticamente, sintetizar as palavras em expressões mais simples, a que interpreto como o ato de “estupidificar” e simplificar o que não necessita de ser simplificado, sendo que a quantidade vocabular, unificada com respetiva qualidade, tornam-se uma mais valia; literariedade (ato de compor o verbal em palavras), que urge na problemática do objeto de estudo da ciência literária, conceito este que vence forma entre 1915 e 1930, pelas mentes de uns jovens intelectuais russos, entre estes, o autor destaca Roman Jakobson; por último, a ideia recente e medíocre de retirar uma obra aquele que externos consideram acessórios, sendo uma atrocidade cometida, pois a construção da obra é um ato estritamente do autor e é inconcebível parcializar deliberadamente obras, retirando o que é mais “extenso”.
De aspetos negativos, ressalto a estrutura interna, a organização de capítulos não é user-friendly, tal como os subcapítulos, que são meramente numéricos. Torna-se difícil encontrar alguma informação relativa a algum tema em particular, deixando o leitor um pouco à nora, quando consultado por motivos de pesquisa.
Citação destacada:
“ (…) leitor moderno já não importam nem as batalhas, nem as cenas palacianas e que cabe aos editores o cuidado de lhe apresentar as partes interessantes, despidas de inutilidades. Isto ainda continua. É um abuso, um atestado de mediocridade a quem o produziu e a quem o aceita, e também um atentado à liberdade de escolha do leitor.”
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